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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

FREDERICO GOMES

( Brasil – Rio de Janeiro)

 

 

É jornalista  e poeta, autor de Poemas oredinários (Sette Letras, 1995), Outono e Inferno (Topbooks, 2002).
Colaborou com os suplementos literários  do Jornal do Brasil e do Globo e com as revistas Poesia Sempre  (Biblioteca Nacional) e Revista Brasileira (Academia Brasileira de Letras).}Foi crítico de artes plásticas nas revistas  Arte Hoje (Rio Gráfica Editora), Módulo – Arte e Arquitetura (de Oscar Niemeyer), Cadernos do MAM (Museu de Arte Moderna, RJ) e no Jornal do Brasil.
Trabalhou na comunicação social da Secretaria do Estado da Cultura /RJ, no departamento de edições da Fundação  Nacional de Arte (Funarte/RJ) e no setor de publicações da  Academia Brasileira de Letras.
 

REVISTA BRASILEIRA – Academia Brasileira de Letras, Fase VIII, N. 88, Julho-Agosto 2016,   ISSN 0103707-2
Ex. bibl. Antonio Miranda
 

         A meus eventuais leitores

     A noite traz-me ao espirito dúctil
as indúcias dos meus erros tantos.
Eis, portanto, nestes rasos cantos
o retrato de uma vida inútil.
A meus leitores pergunto, terno:
Quem me acompanhará neste inferno? * 

*O último verso é a adaptação livre de uma frase de Nietzsche,
"Introdução" A gaia ciência.



'
Bilhete desconsolado a Luís Trimano

... ma sconsolata arriva/ la morte ai giovanetti...

                                                       LEOPARDI

 

     Não há palavras que consolem
o que ora sentes,
não há como apaziguar o espírito
e o coração quando o fado
nos separa tão abrupta
e miseravelmente
de um amado, querido ente.
Se não consola sabe-lo agora alheio
a futuras fadigas e misérias —
e dores e sofrimentos e solidão — enfim
tudo o que faz adulta a vida humana,
que o teu gênio sobrepuje o infortúnio
com a arte que fazes e sobrepuja a vida sã.
 

 

4. Página branca 

O branco da página, níveo deserto
aparece em sua abstrata e crua alvenaria
de luz. Antes, prefiro ver, mais concreto
na página branca, um mar em alquimia. 

Se poetas a veem deserto, vejo-a mar,
mar tempestuoso ou com sua morosa brisa.
Porém, dunas ou ondas, ambas formam par
no espírito do poema que as idealiza.

Eis que se alucina o mesmo sol demente
sobre o líquido deserto que me cabe:
nítida intercessão of the timeless moment.1

O barco é o meu coração. Ninguém sabe.
Proas controversas abre a noite vã:
le vide papier que la blancher defend.2


*1.
Variação sobre verso de T. S. Eliot, "Little Gidding", V.
*2. Mallarmé, "Brise Marine".

 

 

Espelhos de ontem

Ponho, frente a este espelho, o espelho de ontem
ALBERTO DA COSTA E SILVA


I. Biá

Biá era uma negrinha da cor de chocolate
que gostava de comer jiló cru, colhido ainda verde
do pé. O que amarga cura — dizia, puxando-me
pela mão (nunca pela orelha). Eu achava que
quando ficasse velhinha — igual à mãe Sá Rosa —
sai virar um passarinho- fêmea. Não porque
comesse jiló cru, é claro, mas porque todos a
chamariam de Sá Bia. Sabiá Bia, saiba que nem
                               o jiló me cura mais quando estou só.


II – Fazenda do Monte Alto

Sob a sala de jantar corria um córrego
de água tão límpida que da janela observava-se
delicados peixes em feixes mudos em suas
tentativas de subirem por entre seixos miúdos
com obstinado zelo a correnteza cuja fundura desde
aquela altura não ultrapassava mais que o
tornozelo. Mas o que queriam eles lá em cima
nas águas tumultuadas da cachoeira? — eu me
indagava, monstro da peneira.



III – Fructus Belli

Aquele menino magro de ontem tornou-se um
velho hoje, magro ainda e com mais indecisões que
o menino, posto que ao menino povoavam imagens
de muitos heroísmos e mi engenhos em prol da vida,
do mundo e, mais ainda, das mulheres,
e velhos,
e crianças.
Diz-me — em que sendas agora vais,
oh tu, fructus belli
e um tempo que não volta mais?

 

Óbolo de Caronte

A EDUARDO PORTELLA, Mestre

Nunc huc, nun illue
VIRGILIO

Quando chegar a hora última e eu,
Frederico, me despojara de alma
e de corpo, de fúria e de calma
e de tudo o que me pertenceu

em vida, seja concreto ou abstrato
e pôr-me no porto do Aqueronte
a tua espera, ó mestre Caronte,
se faltar-me o óbolo do trato

que tu fizeste com todo humano
para a travessia até o outro lado
desse rio lodoso e amaldiçoado,
não me destrates por desumano

que és, nem me recebas no umbral
com asco, sem ter eu o que me afoite.
Filho de Érebro com a Noite,
navegante desse rio infernal,

saibas que fui poeta e te aguardei
nas horas, minutos e segundos
de toda a minha vida, em profundos
abismos por onde em vão errei.

E saibas também que, como poeta,
nada pude ter que me oferecesse
de algum préstimo a quem merecesse
senão minha inútil forma ereta

de vivente em um tempo caduco,
que agora, portanto, te ofereço,
tão desvalido e tão sem apreço
com fui em vida no mundo eunoco.

Sob longa veste de cor sombria
manchada pelo limo do rio
infernal, verás que, neste frio
sensório de áspera porfia.

há um sentimento sem piedade
que desde sempre anda a nos unir:
esta miséria que nos faz rir
da crença vã na felicidade.

É só uma a verdade, uma a ciência
que faz das outras uma impostura
— o fim de toda coisa ou criança
que se quis eterna em sua existência.

E tu, barqueiro do pantanoso
Aqueronte, nunca me maltrates
por não ter o óbolo, mas artes
falsárias desse mundo enganoso,

pois mesmo sem o salvo-conduto
viajarei clandestino em tua barca
— cortado pelo dente da Parca,
amarrado ao leito do Procusto.

 

*

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 Página publicada em janeiro de 2023

 

 

 
 
 
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